A história da própria história: três Adolfs, um mundo

 

Parte da capa de Recado a Adolf [Capa]

Nossa leitura mais recente da Call de Mangás foi um clássico de Osamu Tezuka, ganhador do prêmio da Kodansha em 1986: Recado a Adolf (também conhecido como Message to Adolf ou Adolf ni Tsugu). Trata sobre a história de três Adolfs explicadas sob o ponto de vista de um jornalista – Sohei Toge – que tem sua vida transformada após um acontecimento quando vai cobrir as Olimpíadas de Berlim. Os três Adolfs são: 1) o ditador nazista Adolf Hitler, 2) um filho de uma japonesa com um militar alemão chamado Adolf Kaufmann, e 3) um menino judeu que vive no Japão chamado Adolf Kamil.

O primeiro comentário diz respeito ao aspecto textual. É longo, às vezes chato. Mas é muito longo mesmo. É um mangá que tem muito texto e se você não tem essa noção, não vai conseguir dividir bem seu tempo caso você precise lê-lo rapidamente (como foi o nosso caso, que tínhamos que ler toda semana – acabamos atrasando a call inclusive). Ao mesmo tempo que tem muito texto, ele é todo justificável. Não é como se não precisássemos do conteúdo, porque na verdade precisamos. Tanto das informações históricas corretas quanto do próprio enredo que é muito rico. O desenvolvimento dos personagens mostra diversas camadas deles.

A qualidade dos desenhos também é excelente [Capítulo 4]

Antes de falarmos mais um pouco sobre aspectos da história, quero deixar registrada a qualidade dos quadros e, principalmente, do estilo único de Tezuka. O cuidado com a parte do desenho mostra um esforço para buscar o impecável. No meio da profusão textual, o que chama atenção é que tudo se encaixa, tudo faz sentido, até pela mistura de emoções expressa na história. Tem drama, cenas muito pesadas de violência, mas também tem humor, romance... Ou seja, camadas da vida cotidiana.

Mas vamos falar da história. Elogios aos personagens já foram feitos, principalmente por terem tantas facetas. Nossos protagonistas não são heróis, principalmente o Sohei Toge. Ele é um exemplo perfeito de personagem que você gosta e odeia ao mesmo tempo, porque ele faz coisas horríveis, toma decisões duvidosas, mas também tem vezes que age corretamente. Essa complexidade passa por todos os personagens.

É um mangá que estava muito à frente do seu tempo [Capítulo 19]

Tezuka sempre foi um visionário. Talvez seja por isso que ele consiga se comunicar muito bem com todos os públicos até hoje. Sua visão, por mais que seja de um japonês, sobre a Segunda Guerra Mundial e suas consequências é incrível. Ele critica como quem um dia foi oprimido e se torna opressor. Ele não deixa de entender a história como ela é, com os fatos. Ler esse mangá é ver o nosso mundo de hoje em que pessoas querem se manter no poder querendo impor suas "verdades"...

Caso você queira ler Adolf ni Tsugu, leia no seu tempo. É sobre isso. Mas é uma mangá excelente. Aviso que tem cenas fortes de violência, abuso, de gore, cenas sexistas e racistas. Esse aspecto realista acaba sendo bem explorado e no final a lição que fica é: somos todos seres humanos que um dia vamos morrer. Pra que perder tempo com tanta violência e ódio? Bem, vocês podem adquirir o mangá que foi lançado pela Pipoca e Nanquim em dois volumes. O Volume 1 está disponível para compra aqui e o Volume 2 aqui. Nos vemos na próxima postagem!